Do what the panther dare not – zoopitagorismo –

dedicado a Alfredo della Scala

Ceifando todas as camadas de fanfarronice, histeria e teatralização em Nietzsche, vamos encontrar o pequeno pastor luterano dando petelecos no idealismo alemão: um João Batista às avessas que nas suas trapalhadas e bufonarias foi uma profilática para os maiores erros filosóficos modernos (o abstracionismo absoluto, o cienticismo e o socialismo).

Um dos meus exercícios pitagóricos favoritos é conceber duetos imaginários (debates e/ou conversas) entre dois artistas/filósofos/atores (etc). Como Chesterton é espécie de Xuxa entre os conservadores brasileiros ultra-católicos. Pensemos em Chesterton na presença de Nietzsche. Pensemos a sério. Ainda que Chest seja um pensador moderado, uma inteligênica fulgurante, um crítico para todas as oras, um utensílio intelectual, nós também precisamos – igualmente – da fúria dos visionários (mesmo os ensadecidos).  Seria o duelo entre o bom senso e a loucura poética, o encontro entre o peripatético plácido e o louco errático. A ira e loucura, instrumentos fartamento usados pelo doce professor da Basiléia “no sombrio reino de Bismarck”, me parecem contrastar com a loquacidade fluidica & ponderação católica de Chesterton.

Um cachorro chamado dognietzsche, hidrofóbico comedor de carne inglesa, niilista, existencialista, socialista e cientificista, mordendo os tendões apáticos dos indiferentes. É triste, até ironia poética, pensar que o pequeno pastor tivesse perdido a voz, contemplando vôos aquilinos para uma humanidade esplêndida perdida numa individualidade hermética, em tramas absônditas no interior de câmaras mentais, os leões e bestas famélicas presos nesse psiquismo sarcástico & cute do homem moderno.

Quando o bom senso verte-se numa apatia (até insensibilidade), só mesmo o João Batista de Flaubert para nos fustigar os tímpanos.

Gritarei como um urso, como um burro selvagem, como uma mulher que dá a luz! O castigo já está no seu incesto. Deus te aflige com a esterelidade do mulo! (…)

És tu Jezabel! Conquistate o seu coração com o estalido das suas sandálias. Relinchavas como uma égua. Ergueste o teu leito sobre os montes, a fim de realizar seus sacrifícios! O Senhor arrancará teus brincos, teus vestidos de púrpura, teus véus de linho, os anéis de teus pés e os pequenos crescentes de ouro que tremem em tua testa, teus espelhos de prata, teus leques de plumas de avestruz, os saltos de nácara que aumentam tua estatura, o orgulho de teus diamantes, as essências de seus cabelos, a pintura de tuas unhas, todos os artifícios de sua brandura; e faltarão pedras para lapidar a adúltera!

(…)

Deita teu corpo no pó, filha da Babilônia. Faz moer a farinha! Tira o teu cinto, desata tua sandália, arregaça a roupa, cruza os rios! Tua vergonha será descoberta, teu opróbio será visto! Teus soluços quebrarão teus dentes! O Eterno execra o fedor de teus crimes! Maldita! Maldita! Morre como uma cadela!

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