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o Retrato de um Conservador Brasileiro

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La Resistencia

Quando o Brasil enfim for uma ditadura de esquerda e o cigarro for proibido, começará a resistência conservadora. Não vamos tocar “pra não dizer que falamos das flores” com violãozinho-brega e arranjos bobdylanescos; vamos à selva vestindo ternos panamá e nos meteremos mata a dentro com clarinetes, harpas, cravos, virginais e clavicórnios.

Vamos resistir aos comunistas tocando o Concerto¹ para violino de Mendelssohn estoicamente, descendo rio abaixo — passaremos nossas mensagens codificadas uns aos outros em latim ciceroniano e inglês chauceriano. Nenhum desertor será brutalmente assassinado — será obrigado a manuscrever em palimpsesto toda Ilíada de Pope e andar pelado igual Blake.

Citaremos São Efrém da Síria “Estas são, então, as regras do ofício do monge: deves comer com os irmãos; não levantes a cabeça enquanto não tiver terminado de comer; (…) quando desejares beber da garrafa de água, não deixes que tua garganta cause confusão como um homem comum; quando estiverdes sentado no meio dos irmãos e desejares cuspir, não o faça no meio deles, mas afasta-te a certa distância e então cospe.”

Mensalmente um helicóptero tocando Wagner no talo descerá na selva, de seu interior sairão coelhinhas da playboy. Vamos tapar suas bundas com mantos de seda e pedir que leiam em voz alta um poema de Gautier.

O trivium e quatrivium serão restaurados, teremos em nossas bainhas espadas célticas² e nossos cavalos terão nomes de tribunos romanos.

Trocaremos o Calabar de Chico Buarque pela representação farseca da morte de Vercingetórix.

1 o trecho a partir de 0:52 para afastar os demónios e as pessoas feias que nos perseguirão na selva usando camisetas do movimento gay.

2Pode ser substituída por um gládio

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O Vampiro de Piracicaba (Josef Serraut)

Quando soube que o Julio Lemos criava Tarântulas lembrei-me incontinenti do escorpião de Ibsen. Ibsen criava um gigantesco escorpião dentro dum aquário – alimentava-o com melões. Por que um animal tão tenebroso alimenta-se com melões?

Deixemos os escorpiões pro final.

O assunto agora são as atrizes noir – aquelas moças diabólicas que ocultavam armas de pequeno calibre na cinta-linga e estricnina entre os seios.

“Decotes são letais” era assim que começava meu romance noir-brega. Twenty years.

Não existem romances noir em países tropicais. Não dá pra andar de casaco, nem esperar fumacinha saindo dos becos. Aqueles letreiros enormes do Marlboro.

Aliás, nesse romance noir brasileiro, que eu empreendi aos vinte anos, José Serra  chamar-se-ia “Josef Serraut” – oriundo dos cárpatos (é claro). Seria totalmente careca, com sotaque de Piracicaba. Correria atrás das pessoas gritando “mutirão da catarata”.

Em vez de vielas, becos, decotinhos estricninos, haveria o mercado de S. Paulo e pastéis de carne. Josef Serraut (pronuncia-se em franco-latim uspiano: Ioséfi Sórrá), ficaria no pináculo das torres do Congresso, com uma capa de presidente da república e pularia na frente de detetives da polícia um pouco barrigudos e bigodudos. “Já conferiu seu colesterol hoje?”

Iria arrastá-los até o canto, puxaria seus cabelos, vasculharia seus bolsos atrás de um cigarro. Se encontrasse um maço, gritaria num uivo cataclísmico: DRÁÁÁÁUZIO.

Iosef Serraut viraria uma minissérie global. Seria interpretado pelo Stênio Garcia. Nos intervalos do programa  Dráuzio Varella ia dizer que fumar faz o pinto cair.

Haverá propagandas sobre crescimento capilar, grelhas George Foreman e campanhas de amamentação solidária (sem estricnina).

Ah, o escorpião.

Encomendei um anfíbio pela Internet. Chegará por Sedex. Ainda não descobri se é um sapo, uma rã ou uma salamandra. Minha salamandra macho se chamará Ibsen. Irei vesti-lo com casacos compridos, cinzentos, nova-iorquinos.

Ibsen fumará muitos cigarros, talvez 2 maços por dia. Viciado e desbocado, terá traços da personalidade do Olavo de Carvalho. Quem se aproximar do vidro pra falar mal de cigarro ouvirá em salamandrês: “vá tomar no cu”.

Em momentos de tédio, implorarei a Ibsen que imite o olhar de Humphrey Bogart.

1 Minha ambição intelectual de um romance noir ambientado em S. Paulo chegou ao fim. Agora penso em construir um complexo esquema filosófico baseado em Bestiários.

2 O herói do romance seria o Antônio Fagundes com barba sem-terra style. Seria viciado em pinga e freqüentador contumaz do boteco do Xereca.

3 Salamandras odeiam raves. Sério. Elas ficam grudadinhas na parede e não dão um pulo. Animais, diria, circunspectos. (é o início do grande sistema filosófico rabínico. Quem viver, verá

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