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Dictionnaire Infernal

Depois de um jejum midiático de cinco séculos resolvi folhear um jornal. “O governo, o governo, o governo”. Todo mundo que escreve em jornal tem a cara inchada de quem bebeu com um aldeão medieval. Apologética da censura: falem de croissant, das infinitas pernas da Brigitte Bardot. Chamem-na de BB, de Bri, de Bibizinha. Censurem os comentaristas políticos e metam-se, sem pudor, a fazer vaticínios e a entrar em transe.

Até o Diogo Mainardi, que escreve em revista, é culpado. Está inchado e tomou setenta e sete doses de rum com um pirata barbudo. Falem de conflitos domésticos – do pai de família e da mãe heróica que se digladiam pela posse do garfinho prateado.

Às margens do Tietê, façam cabanas e, entre espasmos e uivos, profetizem o fim do mundo, da miséria, e da camisa azul-porteiro do Mainardi.

Falem do Dictionnaire Infernal, dos demônios – Zaebos, Crapaud, Flauros, Malphas e de Mucal.

Aprendam o rúnico e leiam [Heimdall] …“is described as being able to hear grass growing and single leaves fallin”.

Troquem o caderno de Economia por Botânica. Transformem os mortuários em descrições das orlas do golfo pérsico e, num palimpsesto, publiquem cartas de amor, obscenidades e falem do pavoroso Sartre “He would drink down a glass of milky tea, set out his inkpot and pen, then scribble relentlessly for four hours, scarcely lifting his eyes from the paper, ‘a little ball of fur and ink’.*

* Johnson, Paul – Intellectuals

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